O verão é uma estação que evoca sentimentos de descontração, longas tardes ao sol e momentos de diversão com amigos. Não é surpresa, portanto, que haja cervejas especialmente concebidas para complementar e melhorar essa atmosfera. Nesta estação, ousamos dizer que as cervejas são mais do que apenas uma bebida: são a personificação líquida do verão.
Spoiler alert: sabemos que não há propriamente cervejas de verão e de inverno. Mas, admitamos, há algumas que imediatamente nos remetem para uma estação do ano onde o sol, o calor, a descontração e o consumo parecem fluir de uma forma (ainda) mais satisfatória. Em termos gerais, estamos a falar de cervejas mais leves, tanto em corpo quanto em teor alcoólico, projetadas para serem refrescantes e de fácil degustação. Enquanto muitas cervejas são encorpadas e ricas, ideais para climas mais frios, as cervejas de verão são muitas vezes efervescentes, com sabores que remetem a frutas cítricas, ervas e, por vezes, especiarias.
Existem algumas variedades que se destacam como favoritas de verão. As Witbiers, por exemplo, originárias da Bélgica, são cervejas de trigo frequentemente condimentadas com casca de laranja e coentro, oferecendo um perfil aromático e picante. As cervejas do tipo Kölsch, da Alemanha, são douradas e cristalinas, com um acabamento seco que é perfeito para saciar a sede. Já as Saisons, rústicas e muitas vezes com notas frutadas ou picantes, também encontram o seu lugar sob o sol de verão. Ou as famosas Pilsners, normalmente douradas, altamente carbonatadas e com um amargor distinto do lúpulo, tornando-se uma bebida refrescante ideal para dias quentes.
As cervejarias artesanais, em particular, abraçaram o conceito de cervejas de verão, experimentando com ingredientes e técnicas. Não é raro encontrar cervejas infundidas com tudo, desde frutas tropicais até flores, criando uma paleta de sabores que pode ser tão diversa quanto a própria estação.
Para além do sabor, a embalagem cada vez mais desempenha um papel importante. Muitas cervejeiras optam por rótulos alegres e vibrantes, refletindo paisagens de verão ou temas náuticos, ampliando a sensação de que aquela cerveja é, de facto, um brinde à estação.
Ao servir cervejas de verão, é ideal que estejam bem frescas, perfeitas para acompanhar refeições leves como saladas, frutos do mar ou pratos à base de frango. Além disso, são a escolha ideal para churrascos ao ar livre ou piqueniques.
Baixa fermentação, clara e límpida
Para a Central de Cervejas, uma “cerveja de verão” deverá ser tipo Lager: de baixa fermentação, clara, límpida, com um sabor mais leve, refrescante e com um sabor pronunciado em malte e lúpulo. “O estilo Pilsner de Heineken Silver, sendo o mais popular do mundo, é uma excelente opção a ter em conta nesta altura mais quente do ano”, mencionam. Esta cerveja Lager de puro malte apresenta um teor alcoólico mais baixo (4%) e é elaborada através de um processo de produção com guarda à temperatura de -1.ºC, “o que lhe confere um sabor extra-refrescante e um final delicado, tornando assim o seu consumo mais acessível”, esclarece a marca. “Claro que, tal como acontece com qualquer outra cerveja do nosso portfólio, Heineken Silver é cuidadosamente produzida com paixão pela qualidade e com todos os mesmos ingredientes naturais puros e de qualidade superior que se espera de uma cerveja Heineken”.
Para esta cerveja, a Central de Cervejas admite que o copo é um elemento fundamental no serviço: deve estar limpo, seco e à temperatura ambiente. “A cerveja deve estar na temperatura correta e a torneira da coluna ou o gargalo da garrafa não devem tocar no copo ou no líquido, de forma a não contaminar a cerveja”.
Para uma cerveja Pilsner como a Heineken Silver, mais suave e refrescante, são sugeridos alimentos e pratos mais leves típicos do verão, como as saladas, peixe, carnes brancas ou petiscos.
A marca admite que o perfil do consumidor de cerveja tem vindo a evoluir sendo que, atualmente, estamos perante um consumidor mais atento e informado, com novas preocupações com a saúde e bem-estar, e que procura opções ajustadas a estilos de vida mais saudáveis. “A inovação faz parte do ADN da Sociedade Central de Cervejas e Bebidas e, por isso, está bem presente no dia-a-dia de todas as marcas do nosso portfólio. A Cerveja Sagres e a Heineken têm-se adaptado às mudanças, ao diversificar a sua oferta de bebidas e a adotar práticas sustentáveis, de forma a proporcionar uma experiência de consumo em linha com os diferentes estilos de vida”.
Uma Nortada de sugestões
De uma maneira geral, quando pensamos em “verão” a palavra “calor” assola-nos desde logo a mente, pelo que Vítor Hugo Meirelles, sommelier de cervejas na Nortada, acredita que cervejas leves, refrescantes e com teor alcoólico de baixo a moderado são sempre boas opções. “Claro que isto é só uma sugestão. Nada impede uma pessoa de tomar uma Imperial Stout na praia!”.
No portfólio das clássicas da Nortada, Vítor Hugo Meirelles recomenda três cervejas de coloração dourada para matar a sede nestes dias mais quentes: Nortada Lager, Nortada Weiss Bier e Nortada IPA. “A primeira é a cerveja Lager dourada, famosa no mundo todo pela sua leveza e refrescância. A segunda, uma cerveja de trigo ao estilo da região da Bavaria na Alemanha, é leve, frutada e levemente condimentada. A terceira, uma American IPA com amargor moderado e belíssimas notas de frutas cítricas e tropicais oriundas de lúpulos norte-americanos”.
Para a Nortada Lager, o profissional aconselha pratos leves como uma bela Salada Caesar, enquanto para a Weiss, o ideal são peixe, mariscos e a típica combinação bávara com Weisswurst – a famosa salsicha branca alemã. Já para a Nortada IPA, a escolha de ‘paring’ foi hambúrguer de novilho com bacon e cheddar e um condimentado caril de frango.
Vítor Hugo Meirelles admite que os mitos relativamente à cerveja são muitos, citando por exemplo o que menciona que as bolhas na parede de um copo de cerveja demonstram a qualidade do líquido. “O que demonstram, na realidade, é que o copo não está bem limpo… Outro mito é de que cerveja deve ser sempre tomada o mais fresca possível. Na verdade, cada estilo de cerveja tem uma faixa ideal de temperatura de serviço e degustação”.
Cerveja não é só para refrescar
Cláudio Oliveira, fundador da Cinco Chagas, também segue a “linha” de que no verão a cerveja deverá ser “leve, carregada de aromas tropicais e seca”. Por isso mesmo, do portfólio desta marca, recomenda a Extra Brut IPA já que “encaixa perfeitamente nesta descrição”. É que ainda que sendo uma IPA, é de um subestilo que “se quer seca, mais leve de álcool, e neste caso específico com um perfil aromático tropical intenso”.
Para maximizar o sabor e a experiência, o melhor é consumir esta cerveja a uma temperatura ligeiramente inferior às demais, em torno dos 5ºC, sugere Cláudio Oliveira. E ainda que seja um estilo de cerveja que “case” com uma variedade imensa de alimentos, “faz um ‘pairing’ ótimo com carne de veado e novilho, comidas picantes, orientais e ainda um bom parmesão”.
De resto, o fundador da Cinco Chagas mostra-se satisfeito pela forma como a perceção do produto cerveja tem vindo a alterar-se juntos dos consumidores. “O consumidor deixou de olhar para a cerveja apenas como uma bebida para refrescar. Vê a cerveja como um complemento à alimentação”. Claúdio Oliveira salienta ainda que com o aparecimento do movimento “artesanal” em Portugal veio também um leque enorme de diferentes estilos de cerveja que até à data não havia. Novos sabores, novos aromas, um novo mundo de cerveja.
Sabor a pepino em pleno verão
A cerveja não deve ser servida “estupidamente fria” comenta em jeito de piada Diogo Barrigas, da Barona. A explicação é simples: para não ocultar os aromas e sabores presentes nas cervejas. O fundador desta marca alentejana escolhe para verão uma cerveja leve, refrescante e pouco alcoólica. “Sabores e aromas que, ao aproximarmos o copo para o primeiro gole, nos façam imediatamente pensar em tardes de sol na esplanada”.
Do portfólio da Barona, a escolha recaiu sobre a Kölscha de Pepino, uma cerveja que é lançada todos os verões. “E somente no verão”, realçou. É uma cerveja leve, com 5% ABV e, tal como o nome indica, com aroma e sabor a pepino. “Ano após ano, tem-se tornado uma cerveja de culto do verão. Quem gosta de pepino, experimente, não se vai arrepender. Quem não gosta de pepino, não recomendo de todo, mas temos outras opções que cumprem o propósito de uma cerveja refrescante”.
Para a Kölscha de Pepino, Diogo Barrigas avança com uma questão: que tal um ceviche de robalo ou qualquer outro peixe branco?
O fundador da Barona explica que tem vindo a aperceber-se que os consumidores já sabem que existem outros estilos de cerveja para além das Lagers que se vendem em grande escala, e muitos já sabem qual o seu estilo favorito. “No entanto ainda se está aquém no que toca à diversidade da oferta por parte dos espaços HORECA”. Salienta ainda que, gradualmente, os consumidores vão estando cada vez mais exigentes com a qualidade das cervejas que compram. “Conhecem mais estilos e marcas de cerveja que os fazem perceber o que gostam e o que não gostam”.
Quando aos maiores mitos sobre a cerveja, Diogo Barrigas escolhe ‘a cerveja só sabe bem geladinha, a estalar’! “Não é verdade para todos os estilos”, explica. “Existem temperaturas ótimas para se ter uma experiência fenomenal ao degustar uma cerveja, por exemplo se provarem a nossa Porter e se ela estiver muito fria, não vão sentir a presença do chocolate negro, do ligeiro caramelo e notas de café que esta cerveja tem. Caso vos seja servida uma assim, recomendo provar, e ir deixando aquecer no copo. Vão notar que à medida que aquece, os sabores vão-se desvendando com o aumento da temperatura”.
Sumo de fruta em forma de cerveja
Uma cerveja de verão não tem de ser necessariamente fresca e leve, deve ser bem aromática, frutada bem bebível, defende a Madam Lindinha Lucas, marca que nasceu na cidade do Porto e desde sempre se associou à imagem dos espetáculos de variedades e burlesco. “Este verão, sugerimos “The Pinky Pinky Little Circus, uma Pastry Sour de pêssego, papaia e goiaba. Uma cerveja que nos acompanha nos dias quentes com o seu sabor tropical, apesar dos seus 7%”. Aliás, a marca defende que este é um verdadeiro “sumo” de fruta para nos refrescar, que deve ser servido muito fresco, em copo alto. Para acompanhar? “Nada melhor que um bom churrasco”.
A Madam Lindinha Lucas também acredita que o consumidor vai estando cada vez mais familiarizado com a cerveja artesanal, com um público muito mais conhecedor, curioso e amante. “O consumidor já percebeu que este é um mundo onde não há limites e que à medida que vai conhecendo, acaba por encontrar ‘aquela’ cerveja que encaixa no seu perfil”. A marca tem um leque muito variado de consumidores, “desde os jovens que começam a consumir cerveja artesanal e tornam-se clientes habituais, aos clientes de faixas etárias mais altas que encontram na cerveja artesanal uma bebida que está ao nível do vinho que consomem e os preenche da mesma forma”.
As cervejas de verão, podendo não ser uma categoria são, sem dúvida, uma experiência. E com cada gole, seja à beira da piscina, na praia ou no conforto do próprio jardim, elas capturam e destilam a essência do verão, proporcionando uma sensação de frescura e alegria a cada degustação.
Texto: Susana Marvão | Fotografias D. R. | in revista Paixão Pela Cerveja, ed. 08.2023