A cerveja nasceu por acaso, mas tornou-se na terceira bebida mais consumida no mundo, apenas batida pela água e pelo café.
A cerveja, a bebida alcoólica (também há sem álcool) mais bebida no mundo, surgiu, por acaso há muitos milhares de anos, oito mil, segundo alguns investigadores, no território que hoje é o Iraque. Alguém deixou um vaso com cereal esquecido na rua, choveu, o líquido fermentou, a pessoa provou, gostou e estava inventada a cerveja.
Durante os milhares de anos que se seguiram, até aos nossos dias, muita coisa evoluiu e muitas coisas se escreveram, como por exemplo, em 1760 a.c. (isto é, há mais de 3700 anos) o Código de Hamurabi, que determinava a pena de morte para quem não respeitasse os critérios de produção estabelecidos para a cerveja, além de outras leis e indicações relativas ao comércio e direitos e deveres dos clientes nas tabernas. O código também impunha punições severas para os taberneiros que tentassem enganar os seus clientes. Há notícia de que os egípcios eram grandes apreciadores de cerveja e, inclusivamente, o faraó Ramsés III ficou na história como o faraó-cervejeiro por ter doado aos sacerdotes do templo de Amon o equivalente a um milhão de litros de cerveja provenientes das suas fábricas.
Em Roma, no entanto, se nos primeiros tempos do império a cerveja teve algum sucesso, rapidamente foi suplantada pelo vinho, e ganhando o epíteto de bebida dos bárbaros, referindo-se especificamente aos povos germânicos. Apesar disso foram os romanos que deram o nome à bebida, cervisia, em honra de Ceres, deusa da agricultura. Na Idade Média quase todos os ramos do conhecimento humano, estavam confinados aos conventos, e também foi aí que a cerveja foi sendo aperfeiçoada, nomeadamente com a adição de ervas como mirra, alecrim, louro, sálvia, gengibre, até que, tudo isso foi substituído pelo lúpulo. Há quem sustente que o uso dessa planta para dar gosto amargo à cerveja foi utilizada pela primeira vez pelos monges do Mosteiro de Saint Gallen, na Suíça, por volta do ano 800, mas também há quem afirme que o lúpulo apenas terá sido utilizado em meados do século 11, pela freira Hildegard von Bingen, do Mosteiro de Rupertsberg em Bingen am Rhein, na Alemanha.
A verdade é que o lúpulo e a cerveja se mantiveram bem casados até aos nossos dias. Em 1516, a Reinheitsgebot (lei da pureza da cerveja alemã) definia os únicos ingredientes permitidos para o fabrico de cerveja: malte, lúpulo e água. Durante muitos anos assistiu-se à transformação do açúcar em álcool (quer na cerveja, quer no vinho), mas não se sabia a razão porque isso acontecia. Dizia-se genericamente que eram fermentos… E a descoberta de que os fermentos eram afinal micro-organismos denominados leveduras só foi feita em 1860 por Louis Pasteur.
Sem se saber na altura, durante a Idade Média, a cerveja e o vinho foram os grandes responsáveis pela salvaguarda da vida de muitos milhares de pessoas. Eram bebidas limpas porque a fermentação eliminava as bactérias, ao contrário da água que, sobretudo nas cidades, estava muitíssimo contaminada. No final da Idade Moderna a cerveja deixou de ser um produto artesanal e tornou-se numa indústria. Com o desenvolvimento da tecnologia, a indústria cervejeira não parou na sua evolução, não só no aperfeiçoamento da produção de cerveja, mas também do armazenamento, da conservação e do transporte, conhecendo uma expansão a nível mundial.
Desde há 150 anos assistiu-se ao enorme crescimento da indústria cervejeira, com a criação de marcas poderosas e fábricas gigantescas, numa tendência cada vez mais monopolista. Há cerca de 50 anos, primeiro nos Estados Unidos e, posteriormente, na Europa, surgiram muitas microcervejeiras que apresentavam cervejas artesanais com características diferenciadoras, alternativas às típicas cervejas industriais. Em Portugal, o número de marcas de cervejas artesanais deve ultrapassar a centena. Escrevemos sem rigor de números, porque há sempre marcas descontinuadas e outras tantas a aparecerem de novo. O universo português das cervejas industriais é dominado por duas grandes marcas, a Super Bock, do antigo Grupo Unicer, agora designado de Super Bock Group, com sede no Norte, em Leça do Balio, e pela Sagres, da Central de Cervejas (empresa agora detida a 100% pelo grupo Heineken), no Sul, em Vialonga, perto de Lisboa.
A nível mundial, a lista dos maiores produtores é encabeçada pela China, logo seguida dos Estados Unidos, ficando o Brasil, a alguma distância, na terceira posição. A nível de consumo são também estes, e pela mesma ordem, os maiores bebedores. Reino Unido e Alemanha são os países que se seguem no top 5 dos maiores produtores, sendo que, no consumo, a Alemanha fica na quinta posição, atrás do México. Apesar de haver cervejas com variados tons, aromas e sabores, praticamente todas podem ser agrupadas em três diferentes grandes grupos: Ale, Lager e Lambic.
ALE, LAGER E LAMBIC
As Ale são cervejas de alta fermentação. Em geral, possuem sabores e aromas mais frutados. As principais Ale são Amber Ale, Irish Red Ale, Pale Ale, cervejas de trigo (em geral), Stout, Porter, Dubbel, Tripel.
A fermentação ocorre em temperaturas mais altas, em geral entre 15ºC e 24ºC. As Old Ale são um tipo de cerveja escura inglesa de alta fermentação. Esses tipos de cervejas são envelhecidas por pelo menos dois anos antes de serem consumidas. O teor de álcool ronda os 6%, possuindo bom corpo e gosto estruturado.
As Lager fermentam em temperaturas mais baixas, entre 5ºC e 14ºC. É a família mais comum e consumida entre todas as cervejas. As mais conhecidas são as Amber Lager, Vienna Lager, Dark Lager, Pilsen, Helles, Bock, Dunkel, etc. Embora existam vários estilos de Lager a maioria delas é clara na cor, com alto teor de gás carbônico, de sabor moderadamente amargo e conteúdo alcoólico entre 3 e os 6%.
As Lambic destacam-se das outras famílias por serem produzidas a partir de fermentação espontânea, abertas e em contato com o ar. Possuem uma alta acidez. As principais Lambic são Straight Lambic, Fruit Lambic, Gueuze, Kriek, Faro, entre outras. As Lambic são fabricadas tradicionalmente pela região de Pajottenland, Bélgica assim como em Bruxelas, pela cervejaria e museu Brasserie Cantillon. A cerveja Lambic pode ser consumida jovem, tirada directamente do barril de madeira, sem carbonatação, ou envelhecida, após a refermentação, resultando em seus estilos derivados: Gueuze Lambic (cervejas Lambic refermentadas) e Fruit Lambics (com adição de frutas) e Faro Lambic (cervejas Lambic adoçadas). Contrariamente às convencionais cervejas Ale e Lager, que são submetidas à fermentação por linhagens minuciosamente cultivadas de leveduras, a cerveja Lambic é produzida através da fermentação espontânea, que consiste em expor a própria cerveja a leveduras selvagens e consequentemente a bactérias. Esta cerveja apresenta componentes com um forte carácter ácido.
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